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    Autolesão Não Suicida: O sofrimento subjetivo transformado em marcas corporais

    Atualizado: 19 de jul.



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    A Autolesão Não Suicida (ANS), é um comportamento autoagressivo repetitivo, praticado com a intenção de lidar com emoções intensas, frustrações ou dores emocionais. Diferente do suicídio, não há a intenção de morte, e tampouco está ligada a práticas culturais ou religiosas. Ainda assim, trata-se de um comportamento que causa sofrimento e impacta a vida cotidiana da pessoa.






    O que é Autolesão Não Suicida?


    A ANS engloba diversas formas de causar dor a si mesmo, como se beliscar, morder, arranhar, bater a cabeça, provocar cortes, perfurações ou até mutilar partes do corpo. Embora o termo “automutilação” seja comumente usado, ele é limitado, pois se refere apenas a cortes e amputações, enquanto a autolesão abrange uma gama mais ampla de comportamentos autoagressivos.




    Autolesão não é suicídio



    Embora muitas vezes associada ao suicídio, a autolesão não suicida tem motivações diferentes. Enquanto o suicídio busca colocar fim ao sofrimento pela morte, a autolesão busca alívio emocional pela dor física. No entanto, é importante destacar que ferimentos graves podem, acidentalmente, resultar em morte, mesmo sem essa ser a intenção.





    Autolesão e Transtornos Mentais


    A autoagressão pode ser um sintoma de diversos transtornos mentais, como:


    * Transtorno de Personalidade Borderline

    * Transtornos alimentares

    * Transtorno de Escoriação

    * Tricotilomania

    * Depressão

    * Transtornos por uso de substâncias

    * Transtornos psicóticos

    * Deficiência intelectual


    Cada transtorno apresenta características e motivações diferentes para o comportamento. Por exemplo, na tricotilomania, a pessoa arranca fios de cabelo ou pelos do corpo compulsivamente; já na escoriação, há o hábito de beliscar ou cutucar a pele. Em alguns casos, esses comportamentos não têm como finalidade aliviar sofrimento emocional, e por isso **não se enquadram na definição de autolesão não suicida**.






    Onde e Como Acontece?


    As lesões costumam ocorrer em partes acessíveis do corpo, como braços, pernas ou tronco — áreas que possam ser escondidas por roupas. Muitas pessoas que se autolesionam relatam sentimentos intensos de vazio, angústia ou culpa, e sentem um alívio momentâneo ao se ferirem. Esse alívio, porém, é temporário e frequentemente seguido por arrependimento e vergonha.


    O comportamento geralmente surge como uma tentativa de regular emoções difíceis quando faltam estratégias saudáveis para lidar com elas. A dor física serve como uma forma de "distrair" ou deslocar a dor emocional para o corpo, tornando-se um padrão prejudicial que interfere na qualidade de vida.







    A Influência do Ambiente e das Relações Sociais


    Muitos indivíduos que se autolesionam possuem autoimagem negativa, baixa autoestima e forte preocupação com a opinião dos outros. Quando estão inseridos em ambientes julgadores ou pouco acolhedores, o sentimento de exclusão pode se intensificar, aumentando os riscos de autoagressão.


    Em contrapartida, relações afetivas seguras e ambientes acolhedores funcionam como fatores protetores, pois oferecem suporte emocional e ajudam na construção da autoestima. A valorização, o afeto e a aceitação desempenham um papel essencial na prevenção desses comportamentos.






    Por Que a Adolescência é um Período Crítico?


    A adolescência é a fase mais comum para o início da autolesão não suicida. Nesse período, o jovem passa por mudanças físicas, emocionais e sociais significativas, além de vivenciar pressões ligadas à escolha de carreira, identidade, sexualidade e relacionamentos.


    Ao mesmo tempo em que busca maior autonomia, o adolescente ainda não possui maturidade emocional plena. A ausência de estratégias saudáveis para lidar com as frustrações e a influência dos pares podem levá-lo a adotar a autolesão como uma forma de enfrentamento — muitas vezes silenciosa.


    Além disso, a visão negativa da sociedade sobre as “crises da adolescência” pode aumentar o sofrimento, já que o jovem passa a se sentir incompreendido, reforçando sentimentos de inadequação e solidão.







    Um Ciclo de Dor


    A autolesão pode inicialmente parecer um “alívio”, mas seus efeitos são temporários e, a longo prazo, se tornam mais uma fonte de sofrimento. As consequências físicas (como cicatrizes permanentes) e emocionais (culpa, vergonha, isolamento) geram um ciclo vicioso difícil de romper. Em muitos casos, a pessoa percebe que precisa se machucar com mais frequência ou intensidade para sentir o mesmo “alívio” — o que torna esse comportamento ainda mais perigoso.







    Quando Buscar Ajuda?


    A autolesão é um sinal de sofrimento psíquico importante e nunca deve ser ignorada. Buscar ajuda psicológica é fundamental para compreender a origem do comportamento, desenvolver novas formas de lidar com as emoções e construir uma relação mais saudável consigo mesmo.


    A psicoterapia é um espaço seguro para acolher essa dor, sem julgamentos, oferecendo ferramentas para que o indivíduo possa elaborar seus conflitos internos e desenvolver estratégias mais saudáveis de enfrentamento.




    Referências:


    * AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. *Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5*, 2014.

    * CASTILHO, P.; GOUVEIA, J. P.; BENTO, E. (2010). *Auto-criticismo, vergonha interna e dissociação: a sua contribuição para a patoplastia do auto-dano em adolescentes*. Psychologica.

    * DE ARAÚJO, J. F. B. et al. (2016). *O corpo na dor: automutilação, masoquismo e pulsão*. Estilos da Clínica.

    * HENRIQUES, R. L. S. P. (2018). *A automutilação nas políticas públicas de saúde mental*. Revista Pretextos – PUC Minas.

    * GIUSTI, J. S. (2013). *Automutilação: características clínicas e comparação com pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo*. Tese – USP.



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